Na senda de Miguel Torga | ||||||||||||
Por Maria Teresa Portal Oliveira (Professora), em 2015/08/10 | 601 leram | 0 comentários | 161 gostam | |||||||||||
A 17 de julho, os docentes do AET fizeram um percurso na senda de Miguel Torga por proposta da Becre em parceria com a editora OPERA OMNIA, cujo diretor foi o guia oficial. | ||||||||||||
No percurso realizado em camioneta (eram vinte e oito docentes), foram vários os autores da Literatura Portuguesa focados, uns mais conhecidos do que outros. Das Taipas, rumámos a Vila Real para um paragem técnica e provar os covilhetes, espécie de empadas de carne representativas da gastronomia vila-realense, e prosseguimos para S. Martinho de Anta, terra natal de Miguel Torga, que ali quis ficar aí na sua derradeira morada, onde visitámos a sua casa e demos uma volta pelo centro da aldeia, onde pudemos ver o negrilho na praça, uma árvore centenária da qual já só resta o tronco e à qual Miguel Torga dedicou um poema. A UM NEGRILHO Na terra onde nasci há um só poeta Os meus versos são folhas dos seus ramos. Quando chego de longe e conversamos, É ele que me revela o mundo visitado. Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada, E a luz do sol aceso ou apagado É nos seus olhos que se vê pousada. Esse poeta és tu, mestre da inquietação Serena! Tu, imortal avena Que harmonizas o vento e adormeces o imenso Redil de estrelas ao luar maninho. Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso Onde os pássaros e o tempo fazem ninho! Fomos ao Espaço Torga, onde vimos fotografias e um vídeo sobre o insigne escritor. Dali rumámos a S. Leonardo da Galafura, um dos locais prediletos de Torga, onde almoçámos, um piquenique, onde a camaradagem foi o ponto alto, para além da paisagem maravilha das terras transmontanos que Torga batizou de “reino maravilhoso”. Também aí vimos um penedo com uma lápide com um poema de Torga dedicada à terra. São Leonardo de Galafura À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando, S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade, Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano Que ruma em dreção ao cais divino. Lá não terá socalcos Nem vinhedos Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz Envelhecida; Rasos, todos os montes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança. É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho! Eis como ele descreveu o Douro no Diário XII: «O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a refletir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta». Demos um salto ao Peso da Régua, onde passeámos no trem turístico e visitámos as Caves de Vale do Rodo. Já no regresso, fomos lanchar ao Parque Fluvial de Amarante e… com muita pena, mas bem-dispostos e cheios de cultura, regressámos às Taipas, com vontade de reler Miguel Torga, um dos grandes da Literatura Portuguesa. | ||||||||||||
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