Mariana Pinheiro e “O Falcão de Bonaparte” | ||||||||||||
Por Maria Teresa Portal Oliveira (Professora), em 2014/11/10 | 2447 leram | 0 comentários | 1115 gostam | |||||||||||
A 27 de outubro, Dia Internacional das Bibliotecas, a escritora Mariana Morais Pinheiro fez a apresentação da sua obra “O Falcão de Bonaporte” a alunos dos 8º e 9º anos. | ||||||||||||
Mariana é jornalista, tem 29 anos e, aceitando o desafio lançado da editora Opera Omnia, acabou por fazer este livro histórico sobre a 2ª invasão francesa, cuja história era praticamente desconhecida. E referiu que, quando alguém lança um desafio, deve haver uma resposta, de preferência positiva, para que se possa progredir. O medo faz parte do ser humano, vencê-lo é para os que querem seguir em frente, como era o seu caso. E, com medo, a criação expande-se. Começou por mostrar um filme sobre Napoleão Bonaparte e as invasões a Itália, Egito e Rússia, bem como a sua autocoroação como imperador. Tendo proposto um bloqueio económico à Inglaterra, velha aliada portuguesa, e não sendo este aceite por Portugal, o imperador decidiu invadir o país por três vezes. As tropas inglesas vieram, posteriormente, ajudar Portugal e o livro foca o amor de um tenente francês e uma enfermeira portuguesa, um amor proibido. Mas não se limita a ser uma história de amor carnal, é também uma história de amor patriota, porque os portugueses não tinham fardas, andavam descalços, defendiam-se com todos os utensílios possíveis (pás, enxadas, paus…), pois preferiam morrer a deixar o invasor vencer. A guerra fez-se com milícias (o povo) e não com o exército regular, ao contrário do exército de Napoleão, considerado o mis temível e o maior da altura. Depois, Napoleão era uma estratega excelente e tinha mapas enormes (que ocupavam salas, onde estudava o relevo, os rios,… ao pormenor. E isso acabou por ser a maior dificuldade do exército de Napoleão, habituado a combater contra exércitos e não contra o povo. Mariana referiu que para fazer o livro adotara três estratégias: 1ºpasso - pesquisar - consultou enciclopédias, teses de doutoramentos. Livros de ficção sobre o tema, documentários, séries, documentos da época e muita procura na Internet sobre mapas e uniformes militares e até como se dispara um mosquete (século XIX). Contou, por exemplo, que se os soldados franceses desertassem eram guilhotinados, ao passo que os portugueses que os ajudassem iam para a forca. Ora, a enfermeira portuguesa é feita prisioneira e obrigada a ajudar os feridos, entre os quais se contava o capitão francês. 2ºpasso – decidir que o livro seria uma história de guerra (muitas terras portuguesas foram destruídas), mas seria, sobretudo, uma história de amor, não só patriota, mas também um amor romântico (proibido, difícil) para amenizar um pouco a dureza e a crueldade da guerra. 3ºpasso – os desafios. Ao longo do livro teve de enfrentar múltiplos desafios para não cair em incongruências históricas- na altura não havia facilidade de comunicação entre as tropas e o alto comando, pelo que quando os mensageiros morriam não se sabia o que se tinha passado. Para o mesmo evento encontrou datas diferentes- 25 março, 27 março, números de homens completamente diversos (400 numa fonte; 4000 noutra), o que implicou muitas horas de pesquisa. Depois teve de evitar os anacronismos, ou seja, colocar um objeto numa época em que não existia. Por exemplo, escreveu uma cena em que o general Wesley, sempre muito pontual e disciplinado, ao sair da carruagem, tira o relógio e acerta-o pelo Big Ben. Só que, ao pesquisar descobriu que o Parlamento existia na altura, mas a torre do Big Ben só surgiu cinquenta anos mais tarde. Ou seja, depois da cena escrita, verificou que tinha um anacronismo e teve de a reescrever. Outro exemplo dado focou a tábua de queijos do banquete dado por Napoleão, pois teve de certificar-se sobre os queijos que poderiam estar nessa tábua naquela época. Respondeu de seguida a muitas questões levantadas pelos alunos, tendo referido que o que mais gostara de escrever fora os diálogos entre oficiais nas tendas de campanha, as estratégias militares utilizadas e o posicionamento das tropas, a vida social na corte (como se vestiam, como se tratavam, como se comportavam…). E salientou umas curiosidades que causaram admiração aos alunos: ao contrário do que se usava na altura (um, dois banhos por ano), Napoleão passava horas na banheira, levando a higiene a um extremo exagerado, pois recebia marechais, embaixadores… e governava o império da banheira; apesar de ter morrido novo (pouco mais de 50 anos), tinha os dentes todos, numa época em que aos vinte anos já não tinham dentes; em Boticas, há um vinho conhecido pelo Vinho dos Mortos, porque as tropas francesas invadiram o país por Chaves e os agricultores enterraram as garrafas. Quando o desenterraram não estava estragado, ainda estava melhor, pelo que ainda hoje o enterram. Escrever o livro foi uma aventura, mas para os jovens que assistiram à sua apresentação não o foi menos, pelo menos para aqueles que tenham o “bichinho” da História. | ||||||||||||
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