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Encontros com... Cutelarias e Cutileiros
Por Maria Teresa Portal Oliveira (Professora), em 2012/05/02875 leram | 0 comentários | 165 gostam
Os Encontros Com… as Cutelarias e os Cutileiros, promovidos pela BECRE, no âmbito do “Projeto Cutelarias e Cutileiros - na senda do património material e imaterial”, decorreram, na Escola Básica 2,3 de Caldas das Taipas, de 23 a 27 de abril.
Foram cerca de cento e oitenta alunos do 5º ao 8º ano de escolaridade que ouviram os palestrantes convidados – Alberto Ribeiro da Silva, Balsemino Gonçalves, Carlos Marques, Daniel Matos, Domingos Maia, Joaquim Castro e Mário Marques – falar sobre os tempos antigos em que as cutelarias funcionavam graças aos moinhos movidos a pás hidráulicas ou à força gerada manualmente pelo homem que fazia mover o veio ( e depois trocava com o parceiro que estava a trabalhar, pois eram pagos à tarefa), antes da chegada da automatização, já nos anos 70.
De todos os participantes, só um não foi cutileiro: Carlos Marques trabalhou como ajudante de guarda-livros na empresa do seu tio, a Herdmar, e, mais tarde, como contabilista, até se estabelecer por conta própria. Estudioso das Taipas e grande conhecedor de quanto lhe diga respeito, debruçou-se também sobre o estudo das cutelarias e das pequenas empresas que aqui proliferavam. O espólio de algumas das empresas que fecharam está na sua mão e possui imensa documentação. Não é de admirar que sonhe com Taipas a concelho e com o Museu da Cutelaria, nas Taipas.
Domingos Maia começou a fazer anilhas para colocar nos cabos das facas, com quatro, cinco anos. Depois, trabalhou na empresa de seu pai até 65 e, em 67, entrou para a Herdmar, onde trabalhou até se reformar e onde ainda vai de vez em quando. Também Daniel Matos começou a trabalhar em casa e, aos catorze anos, em 1960, foi trabalhar para as cutelarias.
 Balsemino Gonçalves ajudava o pai a fazer os garfos que trazia para casa. Foi para a Herdmar, em 47, com treze anos, tendo saído em 63. Em 76, começou uma indústria caseira de facas de aço mole (com as fitas que vinham a atar os fardos de algodão do Egito e de Angola para os têxteis. Em 84, passou a empresa 2000 inox para os filhos, mas ainda lá vai dar uma mãozinha.
Neto de Garfeiros, Joaquim Castro dava aos foles em pequenito e ajudava o avô. Com onze anos, saiu da escola e foi trabalhar para a fábrica de cutelarias do Berto Silva, mas acabou por emigrar. Também Alberto Ribeiro Silva começou cedo na vida de cutileiro, ajudando a fazer garfos.
Mário Marques, encarregado e filho de patrão (como foi apresentado), hoje um dos quatro administradores da Herdmar, não quis estudar e foi trabalhar para a fábrica. Habituou-se a dar no duro e é um apaixonado pela cutelaria e responsável por muitas das ideias inovadoras da fábrica, tanto a nível da maquinaria como no design dos faqueiros.
O empreendedorismo ficou bem patente nestes encontros, pois todos venceram na vida. E a fome e a pobreza que foram companheiras de alguns serviram de incentivo para darem a volta por cima.
E foi num tom coloquial e de amena cavaqueira que os alunos ouviram falar da bandeira dos cutileiros, do S.João Baptista (o seu patrono), mas em menino e que pode ser visitado na Igreja de S.Domingos, em Guimarães. Porquê? Talvez porque o batismo tem a ver com a água e é necessária a água para temperar os metais. Segundo Mário Marques, feita uma investigação por toda a Europa, todas as grandes cutelarias estão localizadas em zonas termais. E contou uma historieta sobre um emigrante que, no Brasil, se dedicou à cutelaria, mas não conseguia que as suas facas ficassem temperadas. Então, mandou ir um barril de água das Taipas e, quando as facas saíam da forja, eram mergulhadas naquela água e adquiriam têmpera, ficavam duras. O problema estava na água. Será que as termas têm algo a ver com a têmpera dos metais? Há quem não concorde. Os estudiosos que se debrucem sobre o assunto e o estudem.
Entre muita da informação transmitida, saliento uma última que diz respeito aos bairros (que ainda existem!) e que eram construídos ao redor das fábricas, onde viviam os operários. Muitos deles ainda são visíveis na zona da Lameira: Chamoim, Côto/ Charneca, Padre António, Caldinhas, Venda de Secarlos,…
Ao longo destes dias, Balsemino Gonçalves mostrou aos alunos algumas das atividades do tempo do trabalho manual: bater com o martelo no metal para fazer a estampa do garfo; furar as tabuinhas que iam constituir o cabo do garfo com a rabeca, depois de as marcar com o pinador; colocar a tacha e depois cortar o excedente com a cegueta; prendê-las ao torno com um cavalo e retirar a madeira sobrante com uma grosa e depois com uma lima até dar o cabo. Balsemino também fez uma faca de aço mole com uma cinta, utilizando a punceta para cortar o metal batendo no tais. Depois, mostrou os cabos modernos que já estão feitos com um encaixe para a lâmina, só faltando colocar a tacha.
E muito mais foi dito…
No último dia, todos os palestrantes se juntaram num convívio final- um pequeno lanche.

Se quiser saber, ouça os vídeos abaixo:








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